REFLEXÕES - A Arte Muda...


A Arte Muda... Esse tema me veio a mente sem qualquer referência mas... Vamos lá!

Desde que me propus a escrever semanalmente sobre Arte, sabia que teria que buscar temas, já que o assunto principal é Arte. Sabia também que em alguns momentos eu poderia não ter o que publicar já que, com todos os afazeres do dia a dia, especialmente como professor, meu tempo seria absorvido por outras atividades e, ao fim em uma semana qualquer, poderia não ter o que publicar.

Obviamente, este é um problema meu, já que esse compromisso foi assumido por mim e comigo mesmo. Na medida em que ninguém me cobra ou espera que eu publique, a não ser eu mesmo, eu não teria com que me preocupar. Ai entra o outro lado da história, tenho o péssimo hábito de honrar compromissos assumidos, logo, se não dou conta, preciso prestar contas e justificar porque não fiz o que disse que faria, a questão é que, nesse caso, essa cobrança é feita por mim e a mim mesmo... É muita neurose... Uma briga entre Ego e Alter Ego. Quem sabe o Superego resolva esse embate, é ele que considero o grande herói de nossas vidas...

Nesse sentido escrevo tendo em vista um público invisível e suposto que talvez leia o que escrevi e, em geral, poucas pessoas lêem. Digo em geral pois algumas vezes tenho retorno daqueles que leram e comentaram. Já tive acessos de pessoas de outros países que, mesmo de línguas diferentes da nossa se deram ao trabalho de ler e comentar com propriedade. Fico feliz quando isso acontece, mas isso não é a regularidade e sim a exceção.

Vou semiotizar um pouco: Todos que escrevem ou criam qualquer tipo de texto seja verbal, visual, musical, cênico, audiovisual, etc. idealizam um público, seja ele definido a priori ou construído na estruturação do texto já que ele, texto, vive de (e na) sua interpretação senão estaria morto ou mudo de nascença. 

O encontro entre destinador (escritor/criador) e destinatário (leitor/apreciador) se dá no texto, é isso que faz com que o texto seja capaz de produzir sentido e significação, logo, um texto sem leitor não existe (mesmo que o leitor fisicamente não exista de fato, ele existe no próprio texto). O texto, enquanto manifestação formal, sempre diz algo a alguém por meio de sua própria configuração textual, escritor e leitor são instâncias textuais imbricadas na trama do texto e aí um não existe sem o outro.

Portanto todo texto, seja ele qual for, surge entre (e no diálogo de) um escritor e um leitor. Mas se esse leitor é idealizado, então quem é ele?

Aqui volto a falar do Alter Ego. Escritores estão habituados a usar um Outro Eu para dar sentido aos seus escritos, os heterônimos de Fernando Pessoa, por exemplo, os codinomes ou psêdonimos usados por vários artistas e criadores são modos de dar vida a outras personalidades (não paranóicas), aos personagens ou a si mesmo. Um universo rico em pessoas virtualizadas no texto ou imagem (até os avatares, emprestados do Hinduísmo, servem de desculpa, para criar diálogos com a mente). Assim esse suposto leitor acaba sendo um Alter Ego, um espelhamento do autor, construído no texto para fazê-lo funcionar enquanto gerador de sentido. Só para lembrar, o conceito de Alter Ego foi criado por Cícero, filósofo romano, no século I a.C., e não tem nada a ver com Ego e Superego.

Ego, Superego e Id são construções Freudianas para caracterizar a psiquê humana. O Eu ou Ego é aquele que se manifesta socialmente como o vemos como pessoas. O Id é o Eu profundo, o estado mais básico e elementar do indivíduo sobre o qual não temos domínio pleno e o Superego, esse que considero o grande herói de nossa existência, é o mediador entre essas duas instâncias psiquicas e mantém, ou tenta manter, em equilíbrio estes dois estágios da mente. Imaginem se não tivermos esse apoio do Superego, quantas vezes tivemos impulsos extremos e, na hora "H", o Superego nos disse: Xa prá lá, não vale a pena... Enfim ele é nosso redutor de besteira... O Id diz: Faz!, Faz! e o Superego: Pera aí, Pera aí!   Brincadeira, mas nem tanto...

Bem, considerando que o tema inicial, A Arte Muda..., até agora nada a ver com ele não?
Ledo engano, o que fiz até aqui foi tentar desenvolver um racionínio que pudesse levar a uma reflexão, de novo, sobre a Arte.

A frase A Arte Muda, pode assumir a forma de um jogo de palavras, ter duplo sentido e ser interpretada de duas maneiras: 

Uma que adota o sentido de que a Arte é Muda, ou seja, não fala no sentido das palavras, portanto não é facilmente entendida e, por isso de difícil aceitação. Em várias reflexões nos textos que tenho publicado aqui apontei a questão da intelegibilidade e da interpretação das manifestações da Arte Visual. Na maioria delas discuto questões como entendimento relacionando-os ao domínio cultural, educacional e técnico entre outros. Em especial a Arte Atual não se propõe a descrições visuais ou narrativas temáticas que possam ser "lidas", interpretadas "literalmente", mas sim abordadas por meio de suas estratégias discursivas para extrair seus sentidos mais básicos ou profundos e, por isso, parece mais complexa ou Muda, para muitas pessoas.  

Outra adota a interpretação de que a Arte Muda no sentido de transformar, alterar estados de espírito, sensações, sentidos e significação, logo, esta leitura abre um horizonte imenso de possibilidades interpretativas digna dos grandes pensadores e até adotar como meta  Mudar as pessoas e o mundo (megalômano não?). Nessa linha, pode-se pensar nas questões Conceituais que têm ocupado o contexto das reflexões sobre Arte nos últimos cinquenta anos. Mesmo que não mude o mundo e as pessoas continua mudando, transformando a si mesma já que como criação é também auto-transformadora. Tudo é uma questão de sintonia com o seu tempo e seu lugar, aqui e agora.

Como se pode ver um tema que surgiu, quase do nada, dá "panos prá manga", por falar em manga, ao ouvir essa palavra como você a interpreta? Bem, esse pode ser outro tema, para outro texto...

Agradeço a paciência e a gentilieza, pois se você chegou até aqui é porque leu mesmo! Muito obrigado. Aproveite e compartilhe, quem sabe a gente contamine mais pessoas (melhor não usar contaminar, lembra vírus e disso estamos cheios) talvez contagiar mais pessoas (parece mais leve embora, contaminar e contagiar, sejam sinônimos), enfim não se acerta sempre...

Ali em baixo  tem um lugar para comentar se quiser.

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