REFLEXÕES - Desenho e Expressão Gráfica: Arte e Técnica.

Desenho à carvão sobre papel / Isaac.

Embora o Desenho esteja presente nas representações imagéticas da humanidade há milhares de anos, nem sempre é observado com necessária atenção para compreende-lo melhor. Posso dizer que boa parte de minhas preocupações em relação à expressão artística toma o desenho como ponto de partida... ou chegada.

Pode-se dizer que o Desenho é um recurso importante, tanto para a construção do pensamento visual quanto para o contexto expressivo e mesmo técnico. Talvez tenha sido o Desenho o primeiro modo de Imaginar, mas vamos pensá-lo a partir da dicotomia arte e técnica.
Num primeiro momento, pode-se dizer que ele resulta da grafia pura e simples. O ato de desenhar ou seja, a ação ou Gesto Gráfico para sua realização, é exercida normalmente em superfícies bidimensionais e realizada por meio do contato de algum meio material seja um instrumento ou ferramenta capaz de deixar marcas, rastros nessa superfície. Portanto, chama-se Desenho tanto o processo que o realiza quanto o que dele decorre. As grafias, incisões, traços e linhas resultantes são tidas como imagens. Imagens são: "configurações visuais produtoras de sentido" podendo ou não corresponder ao que se vê no mundo natural ou no meio ambiente.

Portanto o Desenho, entendido como traço ou incisão gráfica, é uma das primeiras manifestações visuais da humanidade, juntamente com a Modelagem , a Escultura e a Pintura meios usados para produzir as primeiras imagens da história. Mesmo que hoje em dia os avanços tecnológicos e digitais facilitem sua criação, os primeiros modos de realizá-las ainda estão presentes na expressão artística atual. Nesse sentido, se tomarmos como referência as muitas maneiras de utilizá-lo é possível interpreta-lo segundo vários pontos de vista, revelando assim seus diferentes usos e funções na arte ou na tecnologia, assim vale a pena olhá-lo também como uma produção técnica, ou seja, racional e lógica e não só expressiva ou artística.



As figuras que vemos aqui, a de cima é da caverna de Lascaux, França e a de baixo da caverna de Chavenet, também na França. Ambas dão conta de animais com os quais aqueles seres humanos conviviam e dos quais dependiam para sua sobrevivência. Em cima, vemos um touro, em baixo, dois rinocerontes em confronto. As imagens foram realizadas à traço, graficamente, ou seja, desenhadas. Mesmo assim, dá conta da aparência dos animais. Mesmo que os traços, e as variações tonais (claro-escuro) não sejam naturalistas, mesmo assim é possível apreender o sentido das imagens e entender sobre o que elas falam.



Pensando assim, é possível entender melhor o conceito original do termo “desenho”. Em latim e depois no italiano o termo disegno se refere ao ato de: designar, indicar, marcar e, até mesmo, grafar. Derivando depois em dessein no francês, diseño no espanhol, design em inglês, se torna desenho em português. É possível concluir então que desenhar compreende o ato de grafar/gravar algo quer seja projeto ou produto e também, conhecer.

Mas, a primeira coisa sobre a qual devemos refletir é que o desenho, além de construção gráfica, é também uma construção cultural e varia de acordo com a civilização que o produz, portanto, o modo de praticar ou produzir desenhos varia de aparência e de função em cada época e em cada lugar em que são realizados.

Tradicionalmente pode-se dizer que o desenho é um modo de construir sínteses (ou abstrações) sobre o que vemos ou imaginamos, um modo de apreender o sensível. A principal característica do desenho é seu aspecto gráfico, ao contrário das pinturas que revelam os aspectos cromáticos e nuances tonais, portanto, o traço, a linha, o contorno é uma característica intrínseca ao desenho, resultante da distinção entre as diferentes matérias, superfícies, nuances, objetos, texturas, e tantas outras coisas que queremos distinguir para mostrar numa imagem.
Neste sentido, o desenho pode ser entendido como a diferença visual entre o que é necessário reter e o que é descartável para amparar a informação, como diziam os Gestaltistas, uma distinção entre figura e fundo ou, pode-se dizer: uma distinção abstraída e sintetizada entre forma e contra-forma.

Observe três imagens abaixo de estudos de uma paisagem, realizadas por G. Banns, nelas vamos perceber que o artista separa, gradualmente, os elementos que vão ser destacados por meio das variações gráficas, construindo diferentes densidades tonais geradas graficamente e, ao final, destacando alguns elementos do todo na composição geral. Neste caso, os destaques instituem as figuras e as grafias que amparam aquilo que é destacado, constitui o fundo, fazendo significar uma paisagem.



Veja abaixo os trabalhos de Maurits C. Escher, nos quais problematiza a questão figura-fundo. O que é figura e o que é fundo? Ele não responde a esta pergunta, mas estabelece uma dicotomia entre estas duas entidades perceptivas que a Gestalt já havia identificado, portanto, somos nós humanos que destacamos o que queremos dar a ver ou escondemos aquilo que não nos interessa ver, logo, distinguimos e construímos as imagens do modo como queremos que elas signifiquem.






Mas, nem sempre estamos diante de uma diferença tão óbvia assim, há situações que implicam em distinguir nuances tão próximas que apenas os traços não resolvem esta questão. Foi quanto Da Vinci percebeu a necessidade do uso do “sfumatto” que produziria a sensação de variação gradual destas nuances na paisagem, desenvolvendo estudos sobre a gradação tonal do “chiaro oscuro”. Esta técnica ou estratégia, ao diluir e embaçar o traço ou grafia, cria o efeito de massa, volume e densidade, adicionando ao desenho uma característica moduladora, ou melhor, modeladora. Portanto, além do traço, temos a graduação ou gradação tonal como um recurso plástico incorporado ao desenho e, depois, inerente a ele. Assim vão surgindo os modos de representar ideias por meio de imagens.

Observe no desenho de Alanna Spence, de uma caveira bovina, as variações tonais que fazem surgir a própria figura:



Podemos dizer que, para os artistas do Renascimento, o desenho deixa de ser uma prévia, um projeto, um esboço para assumir sua condição expressiva. Expressar pode ser entendido simplesmente como Manifestar,ou seja, o ato de realizar, independente do sentido e, a partir daí se torna uma linguagem ou, melhor dizendo, uma poética.
Mesmo cumprindo funções pragmáticas o desenho encanta, ilude e expressa. Ele assumi suas identidades: seu caráter técnico e cumprir funções pragmáticas; serve ao ensaio, ao estudo, às anotações, ilustrações, representações e, principalmente, às projeções, aos conceitos e à inteligência visual que depende de construções e interpretações.
Os processos executivos e discursivos de sua poética devem conter, na sua própria expressão, as questões de ordem técnica, estética ou plástica. Os esboços ou croquis amparavam as ideias e definiam o percurso do fazer para a realização de obras mais requintadas ou necessárias como projetos arquitetônicos ou mesmo uma pintura. Veja o exemplo de Michelangelo, num estudo usado na pintura da Capela Sistina, ou ainda, abaixo, um estudo de Da Vinci para a Santa Ceia.






Os diferentes modos de pensar e produzir desenhos decorrem dos usos, costumes e funções aos quais fomos submetidos ao longo do tempo e pertencem à todas as culturas humanas. Ao longo da história o ser humano usou e abusou de sua liberdade e de seu poder de síntese. Significar, por meio do desenho, era apreender, aprender, reter e também racionalizar a informação, um meio de conhecer e garantir o conhecimento sobre aquilo que informava.
Ao mesmo tempo também era um modo de significar o que procurava dar conta, não apenas dos aspectos visíveis, mas também dos aspectos simbólicos, míticos ou imaginários, amparado nas suas crenças e necessidades. Por exemplo: os egípcios, na antiguidade, ligavam as imagens ao sobrenatural,  o modo que acreditavam contatar o divino e com ele se relacionar, um modo simbólico de dizer semelhante e integrado a sua escrita.



A representação, por sua vez, deriva da análise visível do contexto, de onde surge: o Desenho de Observação é, inicialmente, responsável pela interpretação do mundo natural. Este processo parte da imitação daquilo que se vê no mundo transferindo estas informações para uma superfície ou base material por meio das habilidades cognitivas e manuais do desenhista. A construção de imagens semelhantes, miméticas, pretende ser uma síntese analógica que corresponda, no todo ou em parte, àquilo que se vê, portanto preserva a aparência, a espacialidade, os ângulos, pontos de vista, orientação linear (perspectiva), proporção e direção. Logo, sua produção depende de algo visível. No contexto acadêmico, o Desenho de Observação usava como referência modelos em gesso reproduzidos de partes de esculturas e ornamentos de origem grega e romanas, mais tarde passou a utilizar modelos vivos e também objetos do cotidiano como garrafas, frutas e utensílios e depois sólidos geométricos, assumindo aspectos mais atuais.
Em suma, no contexto da tradição acadêmica, o Desenho de Observação é um processo de aprendizagem cujo objetivo é preparar e qualificar o desenhista –ator do processo- para o exercício do desenho como uma atividade à mão livre, ou seja, sem auxílio de instrumentos como réguas, esquadros e compassos.

Os trabalhos do americano Matt Elder é um exemplo deste tipo de desenho.




Outra estratégia do Desenho de Observação era o Desenho do Natural, ou seja, a imersão do aluno no meio, seja urbano ou, de preferência, a própria natureza com sua diversidade de luzes, sombras, cores, planos, linhas e acidentes. A finalidade, ou função, deste tipo de desenho, é o de proporcionar ao observador, a capacidade de apreender o visível, respeitando as características inerentes ao que vê, como meio de adquirir e demonstrar habilidades psicomotoras. Ou seja, uma metodologia para aprendizado baseada no conhecimento, reconhecimento, significação e ressignificação do mundo visível.

A paisagem de Willy Mauren dá esta sensação.




O Desenho de Memória, seria um passo além e resultante do Desenho de Observação, ou seja, embora possa se referir ao mundo, não tem a obrigação de imitá-lo, mas sim de reconstruí-lo, por meio de estratégias do imaginário, logo, as imagens que ele mostra podem ou não existir ou ter existido mas sua função é figurar, ou seja, parecer com algo que se vê no mundo.
A principal característica do desenho de memória é possibilitar o domínio de habilidades psicomotoras por meio da capacidade de reter e reproduzir os aspectos plásticos apreendidos do mundo natural, criando o efeito de luz e sombra, perspectiva, direções etc. Deve tornar plausível ao olhar de quem vê aquilo que o criador idealiza. Serve também de estímulo à imaginação.
Por um lado, indica que o desenhista conhece as características e qualidades sensíveis do mundo natural e, por outro, que é possível criar situações que não ocorreram ou que não são passíveis de ocorrer no mundo, mas possíveis de existir na imagem, ou seja, na imaginação.
Com isto exemplifica-se a aplicação de uma habilidade psicomotora, ou seja, indica a capacidade de representar e, além disso, de criar, inventar. Mas observe que o inventar não se afasta do que conhecemos ou do que vemos no contexto natural, portanto, ainda há uma certa aproximação com o visível e, neste sentido, se instaura o que chamamos de Desenho de Projeto ou Projetivo que compreende, além das habilidades de observação, habilidades psicomotoras e técnicas, baseando-se em regras, normas e sistemas de representação e reprodução como o Desenho Técnico, Desenho Geométrico e outras denominações semelhantes que se dedicam aos processos projetivos da construção civil, à indústria e do Design.


Dito tudo isso, onde fica o chamado Desenho Artístico?

Como vimos até então, o desenho é um processo de apreensão e representação gráfica do visível, portanto, pode ser realizado segundo duas vertentes distintas: uma que se dedica ao processo expressivo em si e outra que se dedica aos aspectos técnicos e funcionais de suas aplicações pragmáticas. Pode-se dizer que o Desenho Artístico, é o desenho dedicado prioritariamente à expressão estética e não às representações técnicas.
Tanto um quanto outro dependem de aprendizagem, seja estética ou técnica, embora seus fins e aplicações sejam diferentes.

O Desenho Artístico é mais tradicional por conta de ter surgido da observação e representação livre do mundo natural. Antes mesmo do ser humano perceber que poderia projetar, prever ações por meio da designação, design. Como distinguir o desenho, em geral, do desenho artístico, em especial?
Uma resposta direta é dizer que o Desenho Artístico se refere ao tipo de desenho que se faz na Arte e os não artísticos são os realizados nas demais áreas técnicas ou de informação, como a ilustração, por exemplo. Resposta rápida mas inútil, pois não esclarece o que define um desenho como artístico e outro como não artístico. Observemos que estamos entrando numa discussão entre valores estéticos e funções ou usos do desenho em diferentes esferas da criação.
Em primeiro lugar é preciso esclarecer o que é Arte. Calma, não vamos escrever um tratado de Teoria da Arte, mas apenas dizer que a Arte também muda no tempo e no espaço, ou seja, as diferentes civilizações que ocorreram em cada momento da história e em cada espaço geográfico, produziram culturas e conhecimentos próprios, logo, também desenvolveram modos próprios de representar o visível, criar imagens: de desenhar.

Portanto, o desenho realizado na pré-história é diferente do desenho da Grécia ou no Egito, tanto em relação aos processos, temas e finalidades. Cada povo, cada cultura, realiza nas suas manifestações sejam artísticas ou não, tomando por referência os valores vigentes no seu contexto social. Ao classificarmos um tipo de desenho como Artístico, estamos delimitando seu processo criativo, suas técnicas, seus materiais, seu uso e função.

Tradicionalmente o Desenho Artístico foi instaurado dentro das Academias de Arte originárias do Renascimento, depois implantado nas Academias de Belas Artes francesas e, mais tarde, no ensino de Arte em geral.

Este estudo de modelo vivo feito por Any, dá conta das características tradicionais:



Esta imagem revela a ideia mais comum do Desenho Artístico, é aquela que ainda resiste, oriunda do ensino acadêmico: a cópia de modelos (vivos ou não) centrados na mimese, ou imitação do que se vê, no intuito de habilitar o desenhista/artista mediante o treinamento do olhar, da mente e da mão para realizar imagens em superfície que se pareçam com coisas do mundo.
Parecer-se com coisa do mundo é necessário, na metodologia Acadêmica para o aprendizado do desenho pois, é por meio da aferição da capacidade perceptiva e reprodutiva do mundo natural que centra esta formação, é por meio da aferição desta aparência que o professor (mestre) verifica se o aluno (discípulo) desenvolve as habilidades específicas para expressar-se por meio desta técnica.

Entretanto, o advento da Arte Moderna, que ocorreu entre o final do século XIX e início do século XX, mudou radicalmente o modo de conceber e produzir desenhos no contexto da Arte, por um lado, desloca a criação da imitação para a invenção e por outro, o domínio da técnica representativa para a experimentação. A livre criação passa a ser o objeto da criação e não a reprodução do visível. Neste caso passam a ter valor expressivo a plasticidade dos traços, as orientações visuais, a textura, a materialidade, a gestualidade e outros valores menos objetivos e mais subjetivos, logo o conceito de Artístico ficou reduzido ao campo acadêmico tradicional e o desenho, a partir do Modernismo, passou a conter os demais modos de expressão, inclusive os da Arte.


Esta série de desenhos é de Picasso, e mostram esta nova concepção de Desenho Artístico, observamos que as referências ao mundo natural são menores, não há preocupação em imitar, mas quem sabe, em citar o mundo, faz referência mas não copia.

Se considerarmos que a Modernidade reconstruiu o olhar e, principalmente, transformou os conceitos que tínhamos de Arte até meados do Século XIX, é plausível que desenho, chamado de Artístico, também tenha assumido estas mudanças e o que encontramos hoje é diferente do que encontrávamos ontem pois o seu conceito se expandiu. O problema é que muitos ainda não perceberam estas mudanças e continuam investindo num modelo anacrônico que foca antes a habilidade manual do que o processo criativo.

Um dos artistas que mudou radicalmente a criação em Arte foi Jackson Pollock, seu processo criativo valoriza a gestualidade e problematiza não mais a questão da mimésis, mas sim a gestualidade e a performance corporal na criação artística, logo o aprendizado imitativo não é uma referência essencial para a produção do artista, mas sim o criativo!



Levando em conta estas considerações, principalmente as tendências instauradas pelo Modernismo na Arte, podemos dizer que o Desenho Artístico é aquele, cuja função é a expressão, portanto, não se presta apenas a imitar ou dar a ver aquilo que conhecemos no mundo, mas é capaz de expandir esta concepção. Neste caso, o Desenho Artístico, se optarmos a continuar usando esta nomenclatura, não se preocupa necessariamente com os aspectos naturais, anatômicos ou cromáticos daquilo que é mostrado, mas se presta a criar sensações e efeitos expressivos a partir disso, assume características autorais, pessoais e até, idiossincráticas. Considera os aspectos sensíveis (estésicos, sensórios) operadas a partir do mundo natural como: Luminosidade, Espacialidade e Temporalidade, ou seja, as qualidades luminosas (luz, sombra e cor), as qualidades espaciais (lugar, dimensão e direção) e as qualidades temporais (cinestesia, dinâmica e movimento), como meios de amparar a criação, logo, a operação e a organização destas qualidades plásticas é que irão instauras os valores estéticos produtores de sentido ou significação no desenho, em especial, ou na arte visual e não a mímese.

Dito isto, percebemos que a nomenclatura Desenho Artístico não coaduna com o objetivo proposto pelos processos de ensino/aprendizagem contemporâneos, neste caso, devemos recorrer aos novos conceitos sobre arte, depois do Modernismo, e trabalhar com a ideia de Plástica e da Arte Visual, recorrendo às estratégias de expressão em superfícies bidimensionais, neste caso, a expressão gráfica corresponderia à ideia tradicional do desenho e dá conta deste fazer. É o caso das imagens a seguir de Klee e Miró que fazem do desenho, ou da expressão gráfica, um meio para manifestar seus valores, seus interesses e realizar suas poéticas, sem a expectativa de fazer-nos ver nisso, algo que reconheçamos em relação ao mundo natural.




Outra questão que ainda resta é a do Desenho Técnico. Este não tem relação com a observação do mundo natural, tampouco com a expressão em si, mas com a projeção, o projeto e, neste caso, atende melhor à indústria com o fim de orientar a construção de objetos quer sejam peças, ferramentas, móveis, bens e utensílios que podem ser produzidos em série por meio de processos manuais ou industriais, por meio de ferramentas ou máquinas.
O Desenho Técnico, baseado na construção geométrica ou Desenho Geométrico, é usado em projetos destinados a projetos dedicados à indústria ou a prestação de serviços como na arquitetura ou no Design para viabilizar a execução, orientando técnicos sobre os passos ou instâncias na realização dos produtos. O aprendizado do Desenho Técnico inclui, por um lado, o domínio de habilidades de observação, reconhecimento e criação de formas, por outro, a adequação à normas e convenções da indústria ou do campo específico da produção (arquitetura, design ou engenharias).



O Desenho Técnico assume a característica de um código de conduta ou de realização amparado em procedimentos técnicos rígidos tanto no que diz respeito à formatação, quanto no que diz respeito à execução. Especialmente no mundo tecnológico, em que as máquinas “pensam”, ou seja, os computadores operam sob orientações precisas de técnicos que programam suas ações para realizar tarefas na execução de seus objetos e objetivos de modo criterioso e fechado. Neste caso, não cabe ensaio e erro, não cabe a experimentação, não cabe o aleatório, mas sim o cumprimento de etapas consistentes e localizadas sem o que os produtos não atingem o fim para o qual foram pensados.

Quem sabe, para se opor a este olhar técnico, a grafia de Cristina, abaixo, explicite o pensar opositivo ao racional em que o gesto, a textura, a garatuja, enfim o desenhar sem qualquer compromisso com o olhar do mundo, mas integrada ao compromisso de olhar para dentro do processo poético, do ato que constitui a forma e, deste modo, construir o desenho.



Pensar por imagens é uma característica humana e o modo como nós criamos estas imagens condiz com o modo como vivemos e com as expectativas que temos em nossa cultura no tempo e no espaço: às vezes reproduzimos o que vemos, outras, damos asas à imaginação e voamos...