Pama Loiola, "Perfume da Saudade", 2005. http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra8989/perfume-da-saudade |
Essa pergunta leva, inicialmente, ao questionamento das motivações que estimulam alguém a produzir Arte e, com certeza, não há uma só resposta, mas talvez algumas pistas para entender tais motivações e, quem sabe, entender um pouco mais à respeito disso.
Se fizermos essa pergunta aos artistas provavelmente vamos encontrar muitas respostas e, talvez, a maioria seja muito parecida.
Pama Loiola, acesse em: http://pamaloiola.blogspot.com/p/bio-cv.html |
Independente e à despeito de toda dificuldade que encontraram e encontrarão nesse meio, mesmo assim, continuam dispostas a se manter nessa área.
Pode-se supor também que algumas pessoas foram motivadas pela ilusão de que a Arte é um campo de consagração de visibilidade e sucesso garantidos, já que as mídias de comunicação social sempre destacam artistas, obras, espetáculos fabulosos e altamente rentáveis.
De um modo ou de outro fez-se uma escolha por um caminho que pode se tornar uma carreira autosustentável ou não...
Normalmente a escolha de um percurso profissional vislumbra também a possibilidade de manutenção, sobrevivência e sustento, mas como se sabe, as condições de sobrevivência no campo da Arte Visual tornou-se difícil na medida em que o que cabia à produção artística, nos séculos passados mudou completamente. Não se encomendam mais retratos pessoais ou esculturas comemorativas, não se solicita a decoração ambiental nem mobiliário ou utensílios aos artistas, isso cabe aos fotógrafos e designers. Ao Artista cabe o campo da expressão e das proposições estéticas e conceituais, é isso que o momento possibilita.
Consequentemente o campo de prestação de serviços em Arte Visual praticamente desapareceu e com isso também a profissionalização do Artista. Isso não quer dizer que os Artistas não tenham mais como sobreviver, apenas que os campos em que tais serviços eram prestados mudaram, hoje se encontram nas tecnologias digitais, audiovisuais ou nas redes sociais, em instituições e, ainda, no Ensino.
Bem, isso posto, volto à questão inicial: Por que fazer Arte?
A primeira resposta que me vem à mente é justificada pelo que disse anteriormente: quem escolhe trabalhar com Arte tem motivações de ordem pessoal mais importantes do que outras, ou seja, não foi a possibilidade da fama ou do enriquecimento que as motivou. Tais motivações são, em grande parte, definidas pelo valor simbólico que se atribui à Arte e não pelo valor econômico. Muitas pessoas fazem Arte simplesmente porque se identificam com ela ou com seus projetos, percursos, pressupostos e possibilidades mesmo que tenham que sustentá-la.
Pama Loiola, "Ciranda", 2017. |
Algumas pessoas conseguem manter essa produção de forma autosustentável, seja por meio de sua inserção no circuito, no sistema e mercado de Arte ou por meio de subvenções vinculadas à projetos institucionais e/ou governamentais.
Outras, não conseguem ou não têm interesse pela inserção no sistema de Arte , tais pessoas, independente das dificuldades que tenham que enfrentar para fazer Arte, continuarão fazendo, inclusive desenvolvendo carreiras, atividades ou trabalhos paralelos para sustentar sua produção em Arte.
Me parece que é justamente esse segundo grupo de pessoas que tem crescido nos últimos anos, não estou falando de pessoas que se propõem a fazer Arte de modo amador, com aprendizagem informal realizadas em ateliers caseiros ou em lojas de produtos artísticos ou artesanais, mas de pessoas que desenvolvem sua formação em cursos vinculdados à instituições de Arte qualificadas ou de ensino superior em Universidades.
Como disse anteriormente esses cursos são longos, intensos e requerem persistência, logo, alguém que se submete a este contexto de aprendizagem provavelmente já acredita e defende a existência e sobrevivência da Arte na sociedade, logo, a respeita e a promove.
Esses cursos implicam na dedicação de docentes e discentes, ambos são envolvidos num processo pedagógico que requer o desenvolvimento de três modalidades de conhecimento: cognitivos, psicomotores e afetivos.
O campo cognitivo é o do pensamento, composto da memorização, raciocínio, análise e crítica; o psicomotor, quando se trata de fazeres manuais, depende da habilidade das mãos, do corpo tornando-o capaz de realizar atividades pragmáticas como a manipulação de instrumentos, meios, ferramentas e materiais que constituirão as Obras de Arte, independente de serem ou não materializadas em objetos e coisas; por fim, o domínio afetivo se refere aos valores atribuídos simbólica, psicológica e conceitualmente à Arte e o respeito que se dá a ela. Acredito que seja justamente o fator afetivo um dos principais motivos pelos quais a Arte surge e se mantém em todas as culturas humanas ao longo dos séculos.
Deste modo, acredito que a produção artística contagie, contamine, convoque as pessoas ao diálogo, à reflexão, à análise de tal modo que seja possivel adquirir conhecimentos que, de outro modo, nunca seriam encontrados. Não são apenas os conhecimentos chamados úteis, práticos ou mercantilizáveis que importam à humanidade, mas também aqueles que operam no campo estésico do simples apreciar. Aprender por meio das formas, dos gestos, dos materiais, das cores, texturas e configurações de que tipo for, independente de se parecerem ou não com coisas do munto ou da mente é o que a Arte nos propõe.
Pama Loiola, "Lúcido e Translúcido, 2017. Papel archer, parafina e acetato |
Pama Loiola, "Lúcido e Translúcido, 2017. Papel archer, parafina e acetato |
Agradeço a Pama Loiola o uso das imagens de suas obras e a todos que se dispuseram a dedicar um tempo de seu dia para a leitura desse texto, peço-lhes que o repliquem: conhecimento é prá compartilhar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário