POÉTICA PROPOSITIVA – O caso do EX-LIBRIS



Ex Libris é o termo latino que significa livros de posse ou propriedade de alguém ou de algum lugar como bibliotecas ou coleções. Esta indicação era normalmente posta em contracapas ou folhas de rosto por meio de marcas construídas especialmente para isto no formato de selos ou carimbos. A marca exposta ao lado foi construída com abreviatura sonora de meu nome Isaac = IZQ para identificar este projeto. A proposição estética EX LIBRIS é autoral e se enquadra no campo dos Livros de Artista.

O que é um Livro de Artista? No contexto da Arte, é reconhecido como poética expressiva a partir da década de cinquenta e se torna comum ao longo do século XX, especialmente no contexto da pós-Modernidade. Esta estratégia expressiva pode se caracterizar de várias maneiras: tanto pela manutenção da estrutura do livro, por meio da apropriação de volumes e transformando-os em novas obras chamando-os de Livros-objeto como também por construções que podem ou não assumir a aparência de um livro.

Esta proposição se dedica ao desenvolvimento de investigações estéticas que tomam o livro como um tema ou como base estrutural da criação artística. É uma concepção de caráter conceitual que evoca a tradição que o Livro representa no contexto cultural e social desde suas primeiras manifestações históricas. No caso da Arte, mesmo que destituídos de sua escrita ou de sua forma original, ainda preservam sua autonomia de objeto de sentido e significação. 
Neste caso me apropriei de alguns volumes, originariamente publicados como romances de José de Alencar, pela Cia Melhoramentos, de São Paulo, na década de 1950. Ocultei as referências editoriais mas mantive sua aparência original e desintegrei as estruturas dos volumes reconstruído-os em novas proposições.


Ao destituir os livros de seu contexto literário por meio de reoperações conceituais e formais como intervenções e transformações plástico-visuais, pode-se dizer que os ressignificamos e damos a eles  novas potencialidades expressivas e estéticas, um novo sentido e, a partir dai, assumem sua estética autoral sendo transformados em Obras de Arte sem perder, contudo, sua origem literal...
Os trabalhos que realizei neste perfil, recorrem tanto à estrutura original de livros apropriados para transformação quanto a construção inteira de um ou mais volumes.

Essa série é composta por quatro volumes, conforme os apresento aqui:

Um deles chamei de "O livro dos Segredos". Suas páginas são "congeladas", ou seja, foram fixadas de tal modo que é impossível serem abertas. Antes disso, fiz uma inserção em sua estrutura "paginal". Recortei uma área retangular, inseri no fundo um espelho e diante dele uma chave e sobre ela, fixo na capa, uma lâmina de vidro. A chave pode ser vista mas não acessada. Supostamente, a chave abriria o livro e revelaria os segredos que contém. Como é impossível pegar a chave, o segredo é mantido ad eternum...


O Livro dos Segredos.

Outro desses volumes foi chamado de "O livro das Transparências".


O Livro das Transparências.
Este volume tem seu conteúdo escrito retirando. Seu interior é revestindo com papel branco e entre as duas contraguardas é incorporada uma estrutura de acetato que, embora mantenha o formato original de livro, o destitui da função da leitura transformando-o num volume transparente. Com isto é possível transpassar o olhar de um lado para outro revelando seu interior vazio cujo efeito imediato é o de inexistência convocando o leitor a preencher o vazio imaginando suas próprias histórias.

O terceiro volume é batizado de "O livro dos Apagamentos".


O Livro dos Apagamentos.

Nesse caso, o livro foi completamente desmontado e suas páginas foram pintadas/manchadas de negro e depois remontado. Todo texto verbal desapareceu sob a tinta e o que restou foram as páginas ilegíveis, mas presentes. Nesse caso, nem a memória sobrou... Tudo foi esquecido, apagado...

O quarto volume dessa série se chama "O Livro das Reescrituras" ou de "Rorcharch".


O Livro das Reescrituras.
O Livro das Reescrituras.
O livro foi também desmontato, suas páginas reescritas e depois remontado. Entretanto, essa reescritura não foi feita por meio de palavras, mas de imagens. A intervenção pictória ou gráfica, promoveu o desaparecimento do texto verbal. Parte das intervenções foram realizadas tomando por referência a Kleksographien,  procedimentos usuais no século XIX para inventar imagens, tais processos foram adotados mais tarde pelo médico suíco Hermann Rorcharch como processo de análise terapêutica em Psicologia Comportamental. Nesse caso as páginas são recriadas segundo tais possibilidades. Ora mostram manchas simétricas, ora evocam figuras, ora nada... 

Enfim em Arte nada se perde e tudo se cria!

Curtam e compartilhem, agradeço.



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