REFLEXÕES - Ilustração é interpretação ou autoria?

Dia desses fui presenteado com um livro ilustrado por um dos ex-estudantes de Design que tive o prazer de conhecer na UEL em Londrina quando fui professor daquele curso. O livro é: Cartas da Terra, publicado pela Editora Evoluir em 2016, com textos verbais de Bia Monteiro e textos visuais de Reberson Alexandre, hoje profissional e ilustrador competente e criativo. O presente me levou a refletir sobre Ilustração. Vou falar sobre isso, mas tomando o livro como tema e as imagens para "iluminar" esse texto.

Reberson Alexandre, A capa do livro, "Alquimia em Carl Gustav Jung.
"Meus queridos.
Nós, da terra, fazemos parte de um lugar enorme, o universo, justamente com muitas estrelas, planetas, satélites, asteroides. Mas somos especiais: aqui temos a companhia de rios, flores, passarinhos, cavalos, gente e tanto, tanto mais! Que sorte a nossa, vocês não acham?
Somos uma verdadeira família em que cada um tem sua função, porém todos um único objetivo: Viver com alegria, saúde e paz."
Bia Monteiro, Fragmento da primeira Carta da Mãe Terra, pag 4.

Vamos começar a falar sobre a Ilustração. Ela surge quase que ao mesmo tempo que o livro, digo quase ao mesmo tempo, pois quando Gutenberg, em 1430, ao criar a prensa de tipos móveis revoluciona a maneira de imprimir textos, especialmente livros, mas ainda depende dos processos anteriores para inserir imagens nesses textos. As imagens eram produzidas por meio de gravuras. Gravuras são reproduções de matrizes criadas em madeira, metal ou pedra, por isso ainda dependiam dos artistas para conceber e elaborar imagens sobre estas matrizes para que pudessem ser reproduzidas pelas prensas. Os sistemas fotomecânicos de reprodução de imagens só conseguem maior eficiência no século XX.

Reberson Alexandre, Árvore da Vida, Jardim do Éden.

Muitas imagens eram reproduzidas a partir de gravuras, contudo o processo mais eficiente para isto foi desenvolvido em fins do século XIX, a litogravura. Para produzir uma matriz de litografia era feito um desenho sobre uma placa de pedra que, depois de preparada, era submetida a banhos de água e entintamento. O princípio de repulsão entre água e óleo possibilitava que a imagem fosse retirada da pedra prensando uma folha de papel sobre ela. Este processo permitia também que se fizesse impressões a cores com grande eficiência. Até hoje, o processo de impressão industrial na atualidade é baseada nesse sistema, o offset. Livros, revistas, jornais e impressos em geral ainda são feitos assim.

Reberson Alexandre, Arabesco, Arte Islâmica.

Voltando à Ilustração sabe-se que ilustrar é criar imagens que servem para representar um texto ou acompanhá-lo no intuito de complementar dados e informações sobre ele. Normalmente as Ilustrações são produzidas por meio de desenhos, pinturas, gravuras, fotografia, colagem e outros meios e recursos criativos expandindo o conceito de Ilustração. Nesse caso, a ilustração passa a dialogar com o texto e não apenas interpretá-lo. Esse é o conceito atual de Ilustração e, nesse caso, podemos chamar a este tipo de Ilustração Autoral: a construção de imagens que estabelecem diálogos com um dado texto, em geral, textos criativos e não técnicos. Nesse campo atuam Artistas e Designers, é o caso do autor em questão.

Reberson Alexandre, Grafismo Indígena Asurini, Xingu, Brasil.

A tradição da Ilustração, durante muito tempo, se baseou na capacidade do ilustrador em transformar descrições do texto em imagem, o que chamo aqui de interpretação, contudo, a partir do Modernismo, os artistas passam a trabalhar com a possibilidade, não apenas de interpretar o texto verbal, mas também de impor às imagens suas próprias concepções estéticas e, principalmente, captar o espírito, o conceito do texto e, algumas vezes, em construir um contexto paralelo, ou seja, criar um texto visual que tivesse significados próprios mesmo que em diálogo com o texto original, e esta alusão que faço à autoria.

Reberson Alexandre, Om Tare Tam Soha, Hinduísmo.


Esta linha autoral pode ser, algumas vezes, desenvolvida por meio de associações entre o escritor e o artista ou designer, assim o autor do texto e o autor das ilustrações trabalham em sintonia e constroem um produto dialógico em que, embora cada um deles desenvolva seu próprio processo o resultado é um produto híbrido em que texto e imagem se unem simbioticamente, um serve ao outro sem que cada um perca sua identidade.

Reberson Alexandre, Totem Coruja, Canadá.

Confesso que fui instigado pelo livro e, ao lê-lo, pude descobrir coisas interessantes sobre o planeta. De um lado temos o texto verbal, também autoral, de Bia que o constrói como se a Terra nos falasse e respondêssemos. Pela construção do texto pude apreender que tem caráter didático, destinado à educação de crianças no sentido de estimulá-las a olhar para o meio ambiente e nossas relações com ele de modo mais consciente. As ilustrações de de Reberson constroem um diálogo com ele recorrendo a imagens construídas pelos povos da terra e as ressignifica para fazer conexões entre elas e o texto. O tempo que tomei para refletir à respeito do processo de diálogo entre os dois textos: o verbal e o visual me levaram a elaborar esse texto para homenagear iniciativas desse tipo. Olhar para o planeta com atitude responsável é o futuro, caso contrário...

Reberson Alexandre, Mapa de qualidade de vida (Happy Planet Index, 2012) relacionado aos anéis de crescimento de uma árvore.
Enfim, espero ter feito justiça ao trabalho nessa pequena abordagem. Para saber mais, aqui vai uma breve descrição do livro e sua origem:
A construção do texto é de Bia Monteiro, escritora e produtora cultural que, neste livro, cria diálogos imaginários entre a "Mãe Terra e os "Terráqueos", seus filhos e herdeiros cujas cartas procuram sensibilizá-los para os problemas ambientais e sua responsabilidade para com as gerações futuras. 
Reberson ilustra essas cartas recorrendo a figuras de animais, grafismos, ícones, mitos e outros referenciais imagéticos que surgem ou surgiram nas diferentes culturas ao longo do tempo, daí a diversidade de imagens.

Cartas da Terra se baseia no documento original gerado em 1992 por ocasição da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida por Rio 92 ou Eco-92, onde foi elaborada a primeira versão da Carta da Terra, proposta durante a conferência cuja temática é voltada para uma sociedade global pacífica, justa, sustentável.

Propõe mudança de hábitos para alcançar um futuro melhor para todos os cidadãos do planeta. Os principais temas são: Direitos humanos, democracia, diversidade, desenvolvimento econômico sustentável, erradicação da pobreza e paz mundial. O documento foi ratificado e assumido pela UNESCO em 2000 no Palácio da Paz Mundial em Haia, na Holanda, com a adesão de mais de 4.500 organizações do mundo, entre eles o Brasil. 

Agradeço a leitura e compartilhamento, SALVEMOS O PLANETA! Afinal, Ele merece...

Link para o livro: https://editoraevoluir.com.br/products/cartas-da-terra
Link para o FACE do Reberson: https://www.facebook.com/reberson.alexandre

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