REFLEXÕES - Aliens da “in-consciência”: Não ouço, não falo, não vejo...

Três Negativas! Desenho à carvão e pastel. Isaac.

Ao traçar formas nos desenhos que desenvolvo, nem sempre, tenho uma ideia pré-concebida do que surgirá no processo. Também não me preocupo em criar algo figurativo, em geral, me proponho a trabalhar com imagens abstratas. Nesse caso, quando desenhava, vi surgirem três figurinhas meio “aliens”, imediatamente me lembrei dos três macaquinhos japoneses: Mizaru, Kikazaru e Iwazaru que, nesta sequência, ilustram um provérbio da sabedoria nipônica: não vejo o mal, não ouço o mal e não falo mal. Saru/macaco e Zaru/negação criam o sentido simbólico e salutar desse provérbio assim, completei as imagens lhes acrescentei “Xs” nos supostos ouvidos, boca e olhos para reforçar este sentido.





Detalhe: Não ouço!


Detalhe: Não Falo!



Detalhe: Não vejo!

Para o pensamento ocidental, nem sempre, tais imagens são entendidas pelo seu sentido original, podem ser confundidas com a atitude displicente de ignorar o que não interessa. Pensando nisso peguei o gancho das negativas e tomei outro rumo: o do estado de alienação, assumida ou compulsória, que vem tomado forma ultimamente e desafiando nossa inteligência. Parece haver uma espécie de anestesia intelectual impedindo as pessoas de pensarem, refletirem ou, simplesmente, agirem com bom senso.




Detalhe: Não Ouço!


Uma das questões que me vêm à mente, de imediato, é a intensidade com que o “capitalismo predatório” tem se expandido nas últimas décadas. Tudo deve ser transformado em “commodities”: grãos, minérios, carnes e outros bens produzidos em escala massiva e descontrolada sob a égide da riqueza e do desenvolvimento. Não basta esgotar as jazidas ou a capacidade gerativa da natureza, parece ser preciso fazer dela “terra arrasada” para que ninguém, nunca mais possa usufruir dela. A poluição ambiental promovida pela produção industrial desenfreada já dá mostras de esgotamento e os grandes, ou melhor, pequenos líderes mundiais, continuam defendendo e protegendo este processo. Basta ver a quantidade e lixo depositado no ambiente refletindo exatamente a incapacidade de cuidar da própria casa... o que dirá da casa dos outros... para onde são enviados milhares de contêineres abarrotados de lixo tóxico, contaminado ou só lixo mesmo...




Detalhe: Não Falo!




O sistema político representativo, típico das sociedades livres, antes democráticos, se tornou um meio de manutenção do poder imiscuído das corporações, quadrilhas, milícias e até mesmo políticos que não medem esforços nem dinheiro para dele se apropriar e nele permanecer tornando-nos reféns e ao mesmo tempo vítimas deles.
As grandes empresas mundiais associadas às indústrias do petróleo, de mineração, da química farmacêutica ou de insumos agrícolas e o próprio agronegócio manipulam a produção, distribuição e consumo. Não se pode esquecer a mais rica e promissora delas: a indústria das armas que, quando não investem nos conflitos armados com vistas a derrubada, substituição ou tomada do poder armam seus exércitos para manterem a ordem... 






Detalhe: Não Vejo!

Tudo isso reflete as estratégias cada vez mais intensas e menos dissimuladas de dominação. Para isso devem anestesiar sistematicamente as consciências, seja por meio da neutralização da Educação e do controle das mídias de informação ou da comunicação e da propaganda implícita ou explícita promovendo o poder em benefício dele próprio. Para isto criam falsos problemas ou falácias que justifiquem ações de dominação sobre a população de seu próprio país ou de sua nação sobre outras nações por meio da violência clara e explícita. Assim dominam territórios, meios de produção e desenvolvimento se tornando os senhores da guerra e da paz...
Para tanto são fomentados conflitos em várias partes do globo cujo resultado vemos ao olhar para nações, estados e regiões completamente arrasadas. Sua população expulsa de seus lares, lugares e regiões,  migrantes e refugiados se deslocando em massa e sem rumo impulsionados pelo medo, pelo terror ou simplesmente porque lhes falta ou inexistem condições de amparo social para manterem suas famílias com o mínimo necessário apenas para viver.








As humilhações às quais as pessoas estão submetidas não têm limites: seja pela falta de condições adequadas de sobrevivência e dignidade como trabalho, moradia e saúde, para falar só de questões prioritárias, sobram ainda muitas outras vinculadas à educação, ao respeito à dignidade, à diversidade seja ela de gênero, orientação sexual, etnia, nacionalidade ou qualquer outra diferença que requeira respeito, simplesmente não o recebem. A falta de respeito só aumenta a violência contra a pessoa, contra grupos minoritários, contra tudo que pareça diferente e isso tem alcançado níveis alarmantes dia a dia, basta ver os atentados promovidos contra as minorias mesmo em países em melhores condições econômicas e sociais.


Este é um retrato nu e cru do mundo atual, não é uma denúncia, tampouco alarmismo, basta acompanhar as notícias de instituições de pesquisas ambientais publicadas ao longo dos anos para perceber o tamanho do desastre ambiental e social que vem se desenhando ao longo do tempo. O que aflige é que, em contrapartida, aqueles que tem responsabilidade de representar, cuidar do ambiente e das pessoas por meio de políticas públicas protetivas, agem com escárnio, como Sanzarus reversos: não ouvem bem, não vêem bem e não falam nada que aponte para um tempo ou mundo melhor, mais equânime e respeitoso.


E eu aqui tentando falar de Arte... Que ironia...

Peço que desculpem o desabafo. Em tempos nublados e duvidosos como vivemos até na Arte nos ressentimos dessas mazelas...

Agradeço a leitura e compartilhamento.

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