REFLEXÕES - Fotogastronomia: uma tendência atual.

Feijoada, Isaac, 2016.
Embora o termo fotogastronomia não exista no dicionário, é um neologismo que surge para dar conta de uma área crescente no contexto da fotografia. Posso destacar, pelo menos três motivos que me levam a escrever sobre este assunto: primeiro gostar de fotografar, segundo gostar de cozinhar e terceiro porque, durante todo o meu trajeto acadêmico, na maior parte dele, fui professor de fotografia. Por isso me pego sempre pensando nas relações, aplicações, funções e destinos nos quais a fotografia é protagonista ou coadjuvante. Nesse caso com um gostinho especial: o de unir duas coisas que me dão prazer, a fotografia e a culinária.

Outro aspecto motivador é a constatação de que a presença da fotografia culinária  nas mídias de comunicação aumentou substancialmente. A imagem fotográfica culinária tem presença constante em diferentes mídias e suportes como cartazes, revistas e livros ou nos meios digitais fixos e on line, tem crescido dia a dia e inundado o nosso cotidiano enchendo nossos olhes de desejo e de prazer.
Quem não gosta de ver uma bela fotografia de alimentos estimulando-nos ao prazer da boa mesa?



Constatamos também que o universo gastronômico tem apresentado mudanças substanciais na prática profissional, quer seja por meio da qualificação dos chefs internacionais e nacionais e pelas escolas de culinária no Brasil e no exterior, bem como pela crescente valorização do preparo e apresentação dos pratos, produtos e equipamentos nesta área.

Contudo, mesmo que a presença da fotografia de qualidade esteja ganhando espaço nesse meio, também encontramos imagens precárias e sem qualquer cuidado tanto em relação aos aspectos conceituais quanto técnicos. Isso decorre, em parte, da facilidade para tomar e publicar imagens nas redes sociais e, muitos daqueles que tomam essas imagens o fazem sem qualquer informação ou respeito ao alimento ou ao bom senso. Nesse caso, acabam gerando o efeito contrário. Embora a quantidade de imagens seja imensa, ainda temos poucos fotógrafos, ou seja, profissionais preparados para realizá-las com eficiência.



É justamente a facilidade para a documentação de processos e preparos culinários e, sobretudo a veiculação na mídia, tem requerido da fotografia um aperfeiçoamento contínuo em busca do aprimoramento das técnicas de registro e sua difusão, além disso, o aumento da qualidade de profissionais dedicados exclusivamente à elaboração e preparo de alimentos para destinados a se tornarem "modelos" fotográficos também cresceu tanto quanto o desenvolvimento do contexto gastronômico.

Chefs, culinaristas, fotógrafos, estilistas e até cenógrafos passaram a atuar nesse universo munidos de conhecimentos, habilidades e estratégias que vão além do domínio culinário e se especializam no domínio imagético, estético e conceitual produzindo imagens capaz de convencer o mais cético dos mortais a compartilhar um prato ou preparo gastronômico com o prazer de um gourmand.

Fazer fotografia de alimentos é também um desafio na medida em que o que se mostra precisa, acima de tudo, convencer o espectador de que o que se vê é agradável à visão e ao paladar. O problema é que só se tem a imagem, o sabor, gosto, o paladar não entra na jogada, então há um grande problema: como fazer com que a imagem supra a ausência dele?
Aí entra a Fotogastronomia.



Fotografar alimentos, especialmente os já processados, não é fácil. Para fotografar nesta área, não basta conhecer as técnicas fotográficas, é necessário conhecer também as técnicas culinárias, o que requer dos profissionais maior competência e especialização. A veiculação destas imagens, além de serem fixas, não tem como contar com os aromas e sabores típicos dos preparos culinários, nesse caso, é apenas na imagem fotográfica que se concentram os esforços para aumentar a eficiência da informação nesta área.

Muitos dos processos de preparação atuam diretamente sobre a aparência dos alimentos e alteram suas características como coloração, textura, hidratação e outras propriedades que são necessárias ao processamento do alimento, mas produzem efeitos imprevisíveis para a fotografia, logo, boa parte do trabalho do fotógrafo ou do estilista culinário é dedicada à anular ou minimizar os efeitos do processamento e preparo dos alimentos no intuito de dar aos pratos uma aparência mais natural e agradável.



Em primeira e em última instância, o que se espera da fotografia de alimentos é que seja suficientemente estimulante para atrair o olhar e comunicar ao leitor as informações correlacionadas aos alimentos e suas qualidades sensíveis como aparência, preparo, cor, textura, apresentação, iluminação etc.



O mercado de trabalho nesta área compreende um conjunto extenso de clientes com diferentes necessidades, sejam os produtores de alimentos; comerciantes de produtos alimentícios e/ou de equipamento, utensílios e instrumentos culinários; editores, gráficas; empresários da área de hotéis, bares, restaurantes e lanchonetes e categorias similares; chefs, gastronômos, gourmets entre outros.



Ao mesmo tempo, esse mercado tem sido substancialmente reforçado e aprimorado pelo desenvolvimento da tecnologia digital de produção, tratamento e distribuição de imagens. Isso proporciona um crescimento assombroso na quantidade e na disseminação de imagens de alimentos por meio de sites, blogs e demais espaços destinados ou relacionados à culinária no contexto da rede mundial de computadores, cada um de nós em alguns momento se sentiu um produtor ao postar uma imagem dessas em redes sociais. Isso faz com que esse olhar sobre os alimentos seja mais aguçado e também mais exigente, daí a necessidade de aprimoramento contínuo desta área.

Não há dúvida de que a fotografia é, de fato, o recurso mais indicado para dar conta desta crescente necessidade e é sobre ela que recaem as exigências de performances cada vez mais eficientes tanto em relação à documentação quanto à apresentação e difusão do trabalho dos culinaristas.É por meio dela que se constrói a abordagem para mobilizar as pessoas que apreciam a boa mesa cativando-as pela visualidade e, quem sabe, estimulando-as a buscar novas e ricas experiências gastronômicas.

Isto requer maior investimento nas técnicas e estilos na criação do material visual disponibilizado nesta área, o que implica necessariamente no aprimoramento dos profissionais da fotografia e da imagem. Nesse sentido duas tendências surgiram e têm sido muito requisitadas nesse contexto: a do Food Stylist e do Food Photographer.

Imagem relacionada
https://www.amylevin.co.uk/product/food-photography-styling-workshop-3rd-nov-2018/

Identifico duas grandes tendências estilísticas nesse ramo: uma que busca um olhar mais próximo do efeito de realidade, preciso e técnico que chamo de Editorial e outro, mais expressivo, que valoriza o aspecto plástico, formal e estético que chamo de Natural. O primeiro pode se mostrar como mais objetivo e generalista e o segundo como mais subjetivo e intimista. Percebi isso ao observar as publicações impressas e virtuais de hoje em dia.

Por exemplo: num livro de receitas as fotografias querem, por um lado, dar a ideia de como aquele preparo poderá ficar e, por outro, estimular o leitor para executá-lo senão o livro perde sua finalidade e sentido. Acredito que quanto melhor for a fotografia, mais estimulante será para o leitor. Se a foto de um prato for mal feita, penso que não levará ninguém a tentar realizar aquela receita. É a visualidade que convoca nosso olhar e, por meio dele, estimula o apetite. Pode-se dizer que começamos a comer com os olhos.

Resultado de imagem para photo food style

Para atuar nesse contexto o ideal é se preparar profissionalmente. Alguns profissionais experientes têm proposto um ou outro workshop como estratégia para introduzir os interessados nesse campo. Penso que seria também muito interessante contar com disciplinas especializadas, nos cursos de gastronomia, assim teríamos, ao mesmo tempo, maior esmero na elaboração e apresentação de alimentos e também a qualificação da comunicação e difusão da produção culinária resultando em maior visibilidade para os próprios cursos, como também para os profissionais da gastronomia.

Espero que este texto seja um estimulo para olhar esta área com mais prazer, quer como produtores ou... degustadores...
Agradeço o compartilhamento.

Um comentário:

Anônimo disse...

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